Ex-governador, ex-senador, ex-ministro, ex-um bocado de outras coisas, Freitas Neto é daqueles políticos que, mesmo afastado de um mandato desde o fim da década de 90 é respeitado aonde quer que esteja. Não só no Piauí, mas em todo o Brasil.
Atual diretor da Fiepi (Federação das Indústrias), Freitas Neto publicou um artigo interessante na edição da terça-feira passada (31/01), do jornal O Dia. Intitulado, ‘Aos prefeitos: caminho para uma boa gestão’, o ex-um bocado de coisa deu orientações primorosas de como ser um bom gestor.
“Foi-se o tempo que era considerado bom governante o que concedia benefícios mais do que podia ou realizava grande volume de obras custasse o que custasse mesmo que comprometesse a saúde financeira ou endividasse além da capacidade o Município, o Estado ou o País”, escreveu Freitas Neto, que foi além ao falar até em chantagem:
“Todos sabem que prefeitos, governadores e o presidente da república são pressionados e até chantageados em função dessa segmentação partidária absurda que o atual sistema político-partidário propícia. É difícil compor uma administração competente e ao mesmo tempo obter apoio político para governar. Esta realidade tem prejudicado a classe política que apesar disto resiste em promover a reforma necessária que acabaria com as legendas de aluguel e moralizaria a atividade partidária”.
Ele compara a situação da administração pública com uma família e orienta o gestor a ser como um pai responsável: “Assim, como um chefe de família que gasta mais do que ganha desequilibra seu orçamento e põe a mulher e os filhos em dificuldades, no poder público igualmente tem que se programar no limite de sua arrecadação, de suas receitas. Tem que ”fazer conta” e não desrespeitar a aritmética”. Confira o artigo na íntegra:
Aos prefeitos: Caminho para uma boa gestão
ACM Neto e Geraldo Alckmin foram considerados dois grandes vitoriosos nas eleições de 2016.
O primeiro, prefeito de Salvador, reelegeu-se com 74% dos votos da mais destacada capital nordestina. Alckmin, governador de São Paulo, tido como quem mais se fortaleceu no plano nacional graças ao excelente desempenho de seu Partido no mais poderoso Estado brasileiro.
Indagados pela imprensa sobre as razões que explicam tamanho êxito eleitoral ambos responderam enfatizando o equilíbrio fiscal e financeiro de suas respectivas gestões como motivo preponderante.
Diante da crise sem precedentes em que o Brasil mergulhou entrando em recessão econômica a partir do segundo trimestre de 2014 os dois elegeram a austeridade fiscal como prioridade e assim, com seus efeitos benéficos, puderam trabalhar pela população.
Foi-se o tempo que era considerado bom governante o que concedia benefícios mais do que podia ou realizava grande volume de obras custasse o que custasse mesmo que comprometesse a saúde financeira ou endividasse além da capacidade o Município, o Estado ou o País. Obras que muitas vezes não geravam retorno econômico ou social, não eram importantes para melhorar a vida da população nem eram estruturantes para o desenvolvimento. Muitas deste tipo foram feitas pelo Brasil.
As despesas para sustentar máquinas administrativas inchadas e ineficientes para atender meramente compromissos políticos-partidários tem representado uma sangria crescente nas três esferas da administração: municipal, estadual e federal.
O resultado destes descaminhos administrativos está aí: o Brasil apresentando PIB negativo nos últimos anos, inflação acima da meta, incapacidade de investir, infraestrutura deficiente, serviços públicos se deteriorando a cada dia e o pior, 12 milhões de desempregados e queda de renda da população de 10, 3% de 2014 para cá. O conjunto da obra tem gerado graves problemas sociais para o povo brasileiro.
Por sua vez os Estados e os municípios estão quebrados, em parte porque gastaram mal e também porque as receitas caíram com a situação econômica nacional.
Todos sabem que prefeitos, governadores e o presidente da república são pressionados e até chantageados em função dessa segmentação partidária absurda que o atual sistema político-partidário propícia. É difícil compor uma administração competente e ao mesmo tempo obter apoio político para governar. Esta realidade tem prejudicado a classe política que apesar disto resiste em promover a reforma necessária que acabaria com as legendas de aluguel e moralizaria a atividade partidária.
Esta moralização se impõe e traria novos valores para atuar melhorando a imagem dos políticos infelizmente desgastada e com prestígio e respeitabilidade abalados. As novas regras impostas por uma reforma conseqüente resultaria num salto de qualidade na gestão da coisa pública beneficiando a população que, por sua vez, voltaria a crer nos seus líderes.
Entre 2003 e 2009 a economia mundial viveu em “céu de brigadeiro”. Foi uma fase de crescimento e estabilidade.
Os países em desenvolvimento tiraram proveito, exportaram muito. As commodities alcançaram preços altos no mercado internacional. Perdeu-se ali a oportunidade ideal para as reformas que o Brasil reclama e vai ter que fazer.
Infelizmente o caminho escolhido foi o da gastança e das facilidades que nos primeiros tempos rendem votos! Depois, inexoravelmente, a conta chega com juros e quem tem que pagar é o povo.
Em economia não há milagres. Assim, como um chefe de família que gasta mais do que ganha desequilibra seu orçamento e põe a mulher e os filhos em dificuldades, no poder público igualmente tem que se programar no limite de sua arrecadação, de suas receitas. Tem que ”fazer conta” e não desrespeitar a aritmética.
Esta regra básica deixando de ser cumprida advém, fatalmente, o desequilíbrio que provoca atraso nas obrigações, nos salários, a qualidade dos serviços públicos cai por terra e a consequência automática é a impopularidade do dirigente e o sofrimento da população.
Racionalizar a gestão, escolher bem a equipe de governo, definir criteriosamente o que é prioritário, fazer política mas evitar politicagem, ouvir as ruas, valorizar o servidor, cuidar dos serviços públicos essenciais e manter as contas equilibradas é a receita para quem pretende corresponder à confiança que o povo depositou no governante na hora que o elegeu.
Desviar-se deste roteiro, principalmente em anos difíceis como os que estamos atravessando, é cometer um erro estratégico que pode inviabilizar a administração e o gestor passar a ser mal avaliado por aquele que deve ser a razão maior de toda a ação de governo: O povo.
Freitas Neto, Ex-governador, Economista, Diretor de Assuntos Econômicos da FIEPI
Artigo Publicado na Revista FIEPI, edição de janeiro/2017 e publicado no Jornal O Dia (31/01)
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