Reformas de Dilma sofrerão resistências no Congresso
KENNEDY ALENCAR
BRASÍLIA
BRASÍLIA
Na madrugada de terça, houve um ataque com agressões verbais ao cantor e compositor Chico Buarque, ao ser abordado por jovens na saída de um restaurante no Rio de Janeiro. É um episódio preocupante, porque tem caráter fascista.
Episódios dessa natureza têm crescido no país. A intolerância política está aumentando no Brasil. Chico Buarque não foi questionado por suas posições políticas a favor do PT, mas constrangido de modo ignorante, assediado moralmente e atacado verbalmente. Toda pessoa pública que participa do debate político está sujeita a ouvir críticas ao seu trabalho e à sua posição ideológica.
Mas críticas devem ser feitas com civilidade. Ninguém tem o direito de xingar o outro, de lhe dirigir palavrões, de chamá-lo de um merda porque defende uma posição política constitucionalmente garantida.
Ninguém deve ser xingado por ser petista ou tucano. Nem deve ser chamado de ladrão por pertencer a um partido ou outro. Há um caráter de covardia em reunir um grupo de jovens e abordar de forma agressiva, intolerante e burra uma pessoa em função de suas posições políticas.
A política, aliás, é um caminho civilizatório para diminuir a barbárie. Chico Buarque não merecia o que aconteceu por ser o grande compositor e cantor que é. Nenhuma pessoa merece ser vítima desse fascismo ignorante que tem ganhado força no Brasil. Foi um episódio lamentável, que precisa ser condenado com veemência para que outros não se repitam.
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Reformas de Dilma sofrerão resistências
As intenções da nova equipe econômica de apresentar propostas de reformas da Previdência e trabalhista ao Congresso vão depender da capacidade do governo de construir consensos. Não basta falar de planos impossíveis para agradar ao mercado, porque um eventual fracasso geraria um efeito econômico pior.
Olhando o Congresso que temos hoje e como ele votou no ano passado, as chances de êxito parecem baixas. Quando tinha capital político e popularidade, a presidente Dilma Rousseff nunca apresentou reformas dessa natureza.
O governo sugere que tentará fazê-lo num cenário de baixa popularidade e numa hora em que voltará a enfrentar o pedido de abertura de processo de impeachment, o que deverá acontecer depois do Carnaval em fevereiro. É provável que o cenário econômico esteja pior. Portanto, haverá dificuldades.
É importante debater uma reforma da Previdência que estabeleça idade mínima para aposentadoria, sempre levando em conta que os mais pobres começam a trabalhar mais cedo e que é preciso pensar em regras justas e que garantam a sustentação financeira da aposentadoria das futuras gerações.
O debate sobre flexibilização de regras trabalhistas é necessário porque as relações entre empregados e empregador mudaram. Mas deve haver a preocupação em proteger o lado mais fraco, sobretudo num momento de crescimento de desemprego no qual os empregados perdem poder de barganha.
Seria desejável algum tipo de acordo com a oposição. No entanto, o PSDB e o DEM têm tido uma posição radical. Muitas vezes votam em matéria fiscal como o PSOL, fazendo exatamente o contrário do que pregavam quando estavam unidos no governo FHC.
Em entrevista ao SBT, o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), disse que, se houvesse sinceridade da parte de Dilma e uma iniciativa dela de propor diálogo sobre uma agenda mínima, os tucanos poderiam conversar.
No atual clima de guerra, é algo muito complicado, mas que precisaria ser tentado, porque o país está afundando política e economicamente. É preciso grandeza do governo e da oposição, algo que tem faltado aos dois lados.
E, claro, a iniciativa de conversar teria de partir da presidente Dilma, que deveria, depois de colher vitórias, como a que obteve no Supremo Tribunal Federal na semana passada, procurar estabelecer pontes e não achar que ganhou força para escalar a guerra.
O país precisa de uma classe política que busque a paz, sob pena de prejudicar ainda mais a vida dos mais pobres.
Ouça o comentário no “Jornal da CBN”:
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